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sábado, fevereiro 04, 2006

02-12-1984


O homem é um bicho fedorento, verdadeiramente porco. Sinto-me horrivelmente instigada ao crime pela provocação de um homem. Simplesmente, o sentimento em mim deflagrado é muito forte, é uma repulsa devastadora. Não consigo ser suficientemente clara, não consigo, eu própria, compreender esta descoberta. Coitado do homem, animal frustrado, sôfrego, insaciado, cheio de lacunas. O homem é um animal selvagem, mau, dominador dominado, dominador pela violência e força da estupidez. Uma imagem horrivelmente selvagem marca-me profundamente. Escuso-me a falar dela, porque é impossível fazê-lo sem parcialidade, porque, embora a imagem seja perfeitamente nítida é impossível descrevê-la por simples palavras. Realidade triste é a de que, afinal, eu sou a principal culpada deste sentimento em mim, acho que o provoco, pela não distinção dele em relação ao sentimento que me causa, uma vez que crio as condições propícias para o causar. Não vale a pena escrever isto, basta-me senti-lo, pois de outro modo acabo por o deturpar. As pessoas, quem/que são as pessoas? Julgo serem algum ramo descendente da espécie humana, hoje em vias de extinção (acho que ainda subsiste algures, num lugarejo do mundo..., ou será mera suposição?). Estou rodeada de pessoas, animas ferozes que me excitam estupidamente pela provocação e me causam sentimentos de ansiedade, incerteza, de total desespero. O verdadeiro caminho a seguir é o total isolamento, o não contacto com estas pessoas. Oh, que espécie tão degradante (e degradável) que domina tudo quanto é belo, oprimindo, ordenando, misturando, perseguindo, obscurando. Não há reverso da medalha, o lado mau, virado para mim, oculta o outro... chegámos a uma situação irreversível, a estrada fecha-se atrás de cada passo. Resta-lhes afundarem-se mais e mais... Eles caem por um poço sem fundo, muito escuro. A luz que vêem é o sopro da vida, da esperança que logo morre desesperançada. Então, a luz que vemos não é luminosa, apenas clara. Não, não me considero uma pessoa, o meu ser e a minha dignidade está acima das pessoas. Não quero mais levar vida de pessoa, ela é repudiante. Gosto muito da minha Mãe e esta ideia faz-me sentir uma terrível vontade de chorar, gritar, correr para ela e abraçá-la ternamente, com fervor, com Amor... O meu Pai, gosto muito dele, apesar disso não sei que dizer. Acima de tudo não queria, nem suportaria vê-los sofrer (principalmente sendo eu a causa desse sofrimento). A minha vontade de combater todas estas brutalidade é enorme mas, maior ainda é a minha fraqueza e a minha pequenez em relação a elas. As pessoas construíram a sua própria infelicidade, o seu próprio cativeiro. Resta-me a alegria de não ter tomado parte nesta construção.
[Pintura: O Grito, 1893, Edvard Munch]

2 Comments:

  • I love the scream picture. thanks for sharing it.

    JR Woodward

    By Blogger J.R. Woodward, at 23:42  

  • Deambulei,como quem perdido se tenta encontrar,como quem encontrado se tenta perder do mundo. Nao te dês solidão,encontra-te no meio de todos e sobressai.A vida de pessoa é linda quando lidamos bem com os problemas.Viver é lindo e o dia lá fora raia liberdade.Aproveita.Carpe Diem.
    Navegando....passei por aqui

    By Anonymous Anónimo, at 02:18  

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